2003
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Artigo Original

Desenvolvimento e validação de cartilha para pacientes vítimas de queimaduras

Development and validation of primer for victims of burn patients

Ana Neile Pereira de Castro1; Edmar Maciel Lima Júnior2

RESUMO

OBJETIVO: Este estudo teve como objetivo descrever o processo de construçao de uma cartilha educativa destinada a pacientes vítimas de queimaduras.
MÉTODOS: Utilizou-se a pesquisa-açao como método de pesquisa, e essa foi desenvolvida em quatro etapas: diagnóstico situacional; criaçao das ilustraçoes; preparaçao do conteúdo, baseado na literatura científica; validaçao do material por peritos, pacientes e acompanhantes.
RESULTADOS: O trabalho resultou na produçao da versao final do material em formato de cartilha, que teve o título "Cartilha para Pacientes Vítimas de Queimaduras". A participaçao ativa dos profissionais e dos pacientes e acompanhantes permeou o processo de construçao da cartilha. As opinioes dos pacientes, dos acompanhantes e dos peritos, que consideraram a cartilha enriquecedora e esclarecedora, justificam o uso da cartilha como recurso para fortalecer a prática educativa da equipe multidisciplinar atuante em um Centro de Tratamento de Queimados e, assim, melhorar a qualidade do tratamento e dos cuidados a esses pacientes durante o período de internaçao.
CONCLUSAO: A cartilha pode dar origem a outras questoes de pesquisa, que possibilitem o aperfeiçoamento do material educativo.

Palavras-chave: Educação em Saúde. Guias Como Assunto. Queimaduras. Orientação.

ABSTRACT

OBJECTIVE: This study aimed at describing the process of building an educational primer intended for burn victims.
METHODS: Research-action was employed as the research method, and this was developed in four stages: situation analysis; creation of graphics; Preparation of the content based on the scientific literature; Validation of the material by experts, patients and caregivers.
RESULTS: The work resulted in the production of the final version of the material in primer format, which was titled "Primer for burn victims." The active participation of professionals and patients and caregivers, permeated the process of building the primer. The views of patients, caregivers and experts, who considered the primer enriching and enlightening, justify the use of the primer as a resource to strengthen the educational practice of the multidisciplinary team acting on a Burn Treatment Center and thus improve the quality of treatment and care to these patients during hospitalization.
CONCLUSION: The primer can foster the rise to other research questions that enable the improvement of educational material.

Keywords: Health Education. Guidelines As Topic. Burns. Orientation.

INTRODUÇAO

As queimaduras sao feridas traumáticas causadas, na maioria das vezes, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Atuam nos tecidos de revestimento do corpo humano, determinando destruiçao parcial ou total da pele e seus anexos, podendo atingir camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendoes e ossos1. Atualmente, as queimaduras constituem um problema grave de saúde pública no Brasil. Estima-se que, no país, ocorram cerca de 1 milhao de acidentes com queimaduras por ano, mas apenas 10% irao procurar atendimento hospitalar, sendo que 2.500 irao a óbito, direta ou indiretamente, em decorrência das lesoes. Dois terços de todos os acidentes relacionados de causa térmica ocorrem no próprio domicílio da vítima e, frequentemente, envolvem adultos jovens do gênero masculino, crianças, menores de 15 anos e idosos, que sao as principais vítimas2.

Desta forma, a queimadura continua ocorrendo de forma grave, necessitando, na maioria das vezes, de hospitalizaçoes em centro especializados. É interessante ressaltar que em qualquer atendimento na área da saúde, incluindo a hospitalar, existe hoje a consciência de que nao sao necessários ao sucesso apenas os aspectos técnicos ou terapêuticos envolvidos. Cabe ao paciente e ao acompanhante interagir com a equipe interdisciplinar, possibilitando uma recuperaçao física, psicológica e social o mais precoce possível.

Para o paciente queimado, estar hospitalizado em um ambiente estranho, com pessoas desconhecidas, o afastamento do lar, dos familiares e dos amigos e, especialmente, submeter-se a procedimentos muitas vezes desconhecidos, gera sentimentos de dor, de ansiedade, de repulsa e de medo, nao colaborando com a rotina do CTQ e nem com o tratamento dado a eles, cujas consequências poderao agravar ainda mais o seu estado e aumentar o tempo de hospitalizaçao3.

O interesse pelo assunto surgiu mediante a experiência da pesquisadora em um Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), no qual em seu cotidiano pode perceber que os pacientes bem orientados acerca dos cuidados a serem realizados colaboram mais efetivamente durante a internaçao, aumentando também as chances de colaboraçao durante os procedimentos, o que pode, consequentemente, vir a reduzir o tempo de internaçao.

Com isso, a presente pesquisa se justifica pela necessidade da equipe de buscar estratégias de cuidado, a fim de orientar os pacientes internados acerca do problema, bem como fornecer subsídios para o manejo e para a recuperaçao de pacientes vítimas de queimaduras. Mediante isso, surgiu o seguinte questionamento: a confecçao de uma cartilha contendo orientaçoes sobre as rotinas da unidade e do tratamento ao paciente queimado durante sua internaçao o auxiliaria na aceitaçao de seus cuidados?

Nesse sentido, uma maneira de estimular os pacientes portadores de queimaduras a compreender e aceitar o tratamento dado a eles durante sua internaçao é a utilizaçao da educaçao em saúde, por meio de ferramentas educativas. Os materiais educativos assumem um papel importante no processo de educar, pois promovem a mediaçao de conteúdos de aprendizagem e funcionam como recurso disponível, para que o paciente e sua família possam consultá-lo sempre que acharem necessário utilizá-lo4,5.

Segundo os mesmos autores, o processo educativo é um instrumento de socializaçao de conhecimentos, de promoçao da saúde e de prevençao de doenças, pois contribui na valorizaçao da autonomia, da autoestima, da autoconfiança e da autorrealizaçao, sendo capaz de transformar posturas e atitudes. A educaçao em saúde é uma funçao essencial à prática do enfermeiro, nao somente por meio da comunicaçao de conteúdos e das realizaçoes de intervençoes educativas, mas, também, no desenvolvimento e na avaliaçao dos recursos educativos produzidos para consumo de seus clientes.

Para elaboraçao de materiais educativos de qualidade, faz-se necessário selecionar quais informaçoes sao realmente importantes para constar no instrumento informativo, exigindo definiçoes claras dos objetivos educacionais a serem alcançados pela populaçao em questao. Logo, ele deve ser atrativo, acessível e claro, significativo, aderente à realidade do leitor e apresentar vocabulário coerente com a mensagem e com o público-alvo. Este nao deve somente transmitir informaçoes, mas estimular a reflexao e fomentar a instrumentalizaçao para o cuidar4,6.

Para elaboraçao de material educativo impresso para pacientes, tem-se utilizado opçoes de tecnologias como os folhetos, os panfletos, o folder, o livreto, as cartilhas, o álbum seriado, cuja proposta é proporcionar informaçao sobre promoçao da saúde, prevençao de doenças, modalidades de tratamento e autocuidado6.

As cartilhas educativas podem ser entendidas como um recurso dedicado a informar a populaçao sobre direitos, deveres, doenças, acidentes, dentre outros. Tais temáticas devem ser abordadas por meio da divulgaçao de conceitos e mensagens, bem como de perguntas e respostas, podendo mesclar narrativas em quadrinhos e textos didáticos e/ou informativos. As cartilhas educativas facilitam o processo de aprendizado, pois permitem ao paciente e sua família uma leitura posterior, reforçando as informaçoes orais, servindo como guia de orientaçoes para casos de dúvidas e auxiliando na tomada de decisoes do cotidiano4,7,8.

O presente instrumento confeccionado foi baseado nas Rotinas de Atendimento ao Paciente Queimado9, a qual traz de forma clara a definiçao de queimaduras, os tipos e os graus, o tratamento e suas rotinas durante sua internaçao. Nesta rotina, também encontramos explicaçoes acerca de cada procedimento de enfermagem a ser realizado no paciente, as limpezas cirúrgicas e a enxertia de pele, a alimentaçao específica de acordo com as necessidades fisiopatológicas, a importância dos exames laboratoriais e o jejum, bem como a dedicaçao e a colaboraçao do acompanhante na recuperaçao do paciente. Este instrumento também trouxe atuaçao multidisciplinar, bem como a importância de cada profissional na rotina de atendimento ao paciente queimado.

Ressaltamos que foi necessário descrever com clareza a fundamentaçao dos cuidados a serem realizados, haja vista ser esse o momento de um exercício no sentido de se fazer uma reflexao sobre as açoes, que possam auxiliar no desempenho do autocuidado do paciente. Nao esquecemos que as orientaçoes pudessem ser acessíveis a todos, independentemente do grau de instruçao, algo que foi reforçado junto à equipe, pois, muitas vezes, nao notamos que estamos utilizando uma linguagem técnica, que só os profissionais da área compreendem e as cartilhas sao construídas para fortalecer a orientaçao aos familiares e aos pacientes, sendo, portanto, indispensável escrever numa linguagem que todos entendam.

A presente pesquisa se tornou relevante por nao existir ainda publicaçoes de materiais educativos do tipo cartilha envolvendo orientaçoes aos pacientes queimados acerca das rotinas hospitalares. Esta lacuna constitui-se em desafio para enfermeiros, pesquisadores e demais profissionais de saúde, o que exige a realizaçao de pesquisas, para o aprimoramento da assistência prestada aos portadores de queimaduras, especialmente, no que diz respeito à utilizaçao de ferramentas educativas.

Seguindo essa perspectiva, o estudo objetivou descrever o processo desenvolvido na elaboraçao da cartilha para pacientes vítimas de queimaduras e a validaçao da cartilha por profissionais atuantes no CTQ, os pacientes internados e seus acompanhantes.


MÉTODOS

A presente pesquisa foi metodológica com abordagem qualitativa. A pesquisa metodológica refere-se ao tipo de pesquisa voltada para a inquiriçao de métodos e de procedimentos adotados como científicos. Faz parte da pesquisa metodológica o estudo dos paradigmas, as crises da ciência, os métodos e as técnicas dominantes da produçao científica. O enfoque qualitativo interpreta dados relativos à natureza dos fenômenos, sem que os aspectos quantitativos sejam sua preocupaçao precípua10.

O levantamento dos dados para construçao da cartilha e obtençao do conhecimento dos pacientes foi realizado em um Hospital Terciário de Urgência e Emergência do Município de Fortaleza - Ceará, no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ). Este possui uma área física de 1.400 m2, prestando atendimento especializado de urgência e emergência ambulatorial e hospitalar, aos pacientes vítimas de queimaduras, durante 24 horas9. O desenvolvimento e a aplicaçao da cartilha obedeceram a quatro fases:

1ª Fase - Diagnóstico situacional - Foi realizada investigaçao junto aos pacientes internados em um Centro de Tratamento de Queimados em Fortaleza-CE sobre os sentimentos e as dúvidas desses pacientes durante o período de internaçao. Foram abordadas questoes buscando identificar lacunas e dúvidas dos pacientes acerca das rotinas e dos cuidados a eles prestados durante sua internaçao. Participaram desta fase 12 pacientes internados, que obedeceram aos critérios de inclusao, tais como: pacientes apresentando quadro de estabilidade clínica no momento da coleta de dados; risco de vida; pacientes com idade superior a 18 anos; pacientes internados na unidade há mais de 24 horas; pacientes que nao apresentem problemas mentais ou cognitivos. A entrevista aconteceu no período de maio de 2013.

2ª fase - Levantamento na literatura - Foram realizados dois levantamentos na Biblioteca Virtual de Saúde que reúne os principais bancos de dados e no Portal "Periódicos Capes". O primeiro sobre as medidas para evitar infecçoes, tratamento cirúrgico inicial, terapia nutricional no paciente queimado, sobre a equipe multidisciplinar atuante em um centro de queimados, e o segundo voltado para construçao e elaboraçao de material educativo, sendo utilizadas palavras-chaves como: "queimaduras", "tratamento com as feridas de queimados", "cartilha educativa", "manual educativo", "educaçao em saúde" e "elaboraçao de cartilha" para pacientes queimados. As buscas foram realizadas com as palavras e termos acima referidos no idioma inglês e empregouse o método integrado, utilizando todos os índices e todas as fontes de publicaçao. O material encontrado foi selecionado após leitura minuciosa.

3ª Fase - Montagem da cartilha - A confecçao da cartilha quanto à linguagem, ilustraçao e layout seguiu as orientaçoes de Moreira et al.6, que recomendam os seguintes critérios:

Linguagem

  • Foram apresentadas de três a quatro ideias principais por seçao, sendo evitadas listas longas, uma vez que os leitores, principalmente aqueles com pouca habilidade, geralmente esquecem itens de listas muito longas;
  • Cada tema foi desenvolvido completamente, somente entao se passou para o tema seguinte;
  • Foi declarado claramente o que se espera do cliente;
  • As açoes foram apresentadas numa ordem lógica;
  • As ideias e os conceitos abstratos foram clarificados com exemplos;
  • Foram incluídas apenas as informaçoes necessárias, para o leitor compreender e seguir a mensagem;
  • As açoes positivas foram destacadas, dizendo ao leitor o que ele deve fazer e nao o que ele nao deve fazer;
  • Foram informados aos clientes os benefícios que eles terao com a leitura do material;
  • Sempre que possível, foram utilizadas palavras curtas, as sentenças foram construídas com oito a 10 palavras;
  • As informaçoes foram escritas em forma de conversa, pois o estilo conversacional é mais natural e mais fácil de ser lido e entendido;
  • Foram utilizadas palavras com definiçoes simples e familiares, além de analogias familiares ao público;
  • Nao foram utilizados jargoes, termos técnicos e científicos, assim como abreviaturas, acrômios e siglas.

  • Ilustraçoes

  • Foram selecionadas ilustraçoes que ajudem a explicar ou enfatizar pontos e ideias importantes do texto;
  • Foram evitadas ilustraçoes abstratas e que tenham apenas funçao decorativa no texto, como também desenhos e figuras estilizadas;
  • Foi ilustrada a açao ou o comportamento esperado, ao invés do que deve ser evitado;
  • Foram utilizados desenhos de linha simples, que funcionam melhor para ilustrar um procedimento;
  • Foram usadas ilustraçoes apropriadas ao leitor, evitando-se ilustrar material dirigido ao público adulto/idoso, com motivos infanto-juvenis e vice-versa;
  • Objetos pequenos foram apresentados em ilustraçoes maiores, para que os detalhes sejam visualizados;
  • Foram empregadas ilustraçoes de boa qualidade e alta definiçao. Para tal, estas ilustraçoes foram realizadas por um profissional da área de design gráfico;
  • Nao foram utilizadas caricaturas;
  • Foram utilizados símbolos e imagens familiares ao público-alvo, que permitem as pessoas se identificar com a mensagem;
  • Símbolos e sinais pictográficos foram usados com cautela. Símbolos "universais" como sinal de pare, X e setas, por exemplo, podem nao ser entendidos pelo público-alvo;
  • Foram consideradas, nas ilustraçoes apresentadas, características raciais e étnicas do público-alvo;
  • As ilustraçoes foram dispostas de modo fácil, para o leitor segui-las e entendê-las, próximas aos textos aos quais elas se referem;
  • Setas ou círculos foram empregados para destacar informaçoes-chave na ilustraçao;

  • Layout e Design

  • Foi utilizada fonte 14, no mínimo, pois o material destina-se ao público adulto;
  • Foram utilizadas fontes para os títulos dois pontos maiores que as do texto;
  • Textos apenas com fontes estilizadas e maiúsculas foram evitados, pois dificultam a leitura;
  • Negrito foi empregado apenas para os títulos ou destaques;
  • As cores foram usadas com sensibilidade e cautela para nao super-colorir, deixando o material visualmente poluído. Impressao preta sobre fundo claro é mais fácil de ler;
  • Foi utilizada impressao fosca (papel e tinta), pois reduz o brilho e melhora a legibilidade;
  • Foi confeccionada capa com imagens, cores e textos atrativos;
  • A mensagem principal e o público-alvo foram mostrados na capa, permitindo que o leitor capte a mensagem principal apenas por sua visualizaçao;
  • Os tópicos e subtópicos foram sinalizados adequadamente, usando recursos como títulos, subtítulos, negritos e marcadores, para facilitar a açao desejada e a lembrança;
  • As palavras ou ideias-chave foram colocadas no início da frase ou da proposiçao;
  • Foi apresentada uma ideia completa numa página ou nos dois lados da folha, pois se o leitor tem que virar a página, no meio da mensagem, ele pode esquecer a primeira parte;
  • As informaçoes mais importantes foram colocadas no início e no fim do documento;
  • As ideias foram organizadas no texto, na mesma sequência em que o público-alvo irá usá-las;
  • Foi limitada a quantidade de texto na página, visto que nem todos os leitores terao capacidade de ler e interpretar apenas com palavras escritas. Estudos mostram que pacientes vítimas de queimaduras tendem a apresentar baixo nível socioeconômico.

  • Após a seleçao do material, foram elaboradas as frases para cada tipo de domínio, a saber, acerca das rotinas e dos cuidados prestados aos pacientes vítimas de queimaduras, durante a internaçao hospitalar. Em seguida, foram realizados encontros com o designer gráfico, para captar a mensagem do texto em forma de ilustraçao. Após a elaboraçao das ilustraçoes, foi realizada a montagem da cartilha. Os padroes de formataçao foram: tamanho de 15 cm de largura e 21 cm de altura e cada página teve, no máximo, duas ilustraçoes.

    A primeira versao da cartilha foi submetida à avaliaçao de peritos, que aprovaram sua validaçao. Os critérios adotados para a inclusao dos profissionais de saúde, como peritos, foram: trabalhar em centros especializados em queimaduras, ter experiência anterior em atividades de promoçao da saúde. Os critérios adotados para a inclusao dos pacientes e acompanhantes foram: estar internados em um centro de tratamento de queimados, ser alfabetizada, isto é, saber ler e escrever. Eles foram solicitados a ler a cartilha e analisá-la em termos de entendimento do vocabulário, bem como adequaçao das ilustraçoes. Também foram solicitadas a indicar os termos estranhos ou difíceis, e a sugerir outros termos para substituiçao, que considerassem fáceis e compreensíveis.

    4ª Fase - Avaliaçao da cartilha por profissionais atuantes no CTQ, pacientes internados e acompanhantes - Nesta fase, um questionário foi utilizado para o processo de avaliaçao11 com os profissionais atuantes no CTQ. As questoes eram relacionadas à adequaçao das informaçoes, linguagem, ilustraçoes, tamanho, apresentaçao da capa, papel, a cor, a sequência da dissertaçao, se a cartilha serve de base para multiplicadores e sugestoes para melhorar a cartilha.

    Para cada tópico da cartilha, os profissionais avaliaram a adequaçao e a apresentaçao das informaçoes, considerando a perspectiva dos leitores. Em relaçao à linguagem, eles avaliaram a conveniência e a facilidade de compreensao e se os conceitos mais importantes eram abordados com vocabulário claro e objetivo. Eles também indicaram possíveis erros conceituais. Em relaçao às ilustraçoes, avaliaram a adequaçao da composiçao visual, sua atratividade e organizaçao, bem como a quantidade e a adequaçao das ilustraçoes. No final da validaçao, esses profissionais foram solicitados a fornecer uma opiniao geral sobre a cartilha e suas recomendaçoes foram integralmente aceitas e incorporadas. Posteriormente, a nova versao da cartilha foi submetida a outro processo de ediçao, revisao e diagramaçao.

    Pacientes e acompanhantes foram convidados a participar do estudo enquanto estavam internados no CTQ de Fortaleza. Os critérios adotados para a inclusao desses participantes foram: estar internados no CTQ, ser acompanhante, e ser alfabetizada, isto é, saber ler e escrever. Eles foram solicitados a ler a cartilha e analisá-la em termos de entendimento do vocabulário, bem como adequaçao das ilustraçoes. Também foram solicitadas a indicar os termos estranhos ou difíceis, e a sugerir outros termos para substituiçao, que considerassem fáceis e compreensíveis.

    O processo de validaçao, realizado por peritos, pacientes e acompanhantes, foi conduzido até a ausência de novas recomendaçoes para mudanças. Esse critério foi seguido para determinar a quantidade de participantes neste estudo.

    A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará com o protocolo Nº. 299.969.


    ANALISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS

    Os resultados foram organizados em quatro tópicos: diagnóstico situacional, levantamento na literatura, confecçao/montagem da cartilha e avaliaçao da cartilha no CTQ.

    Diagnóstico situacional

    Em pesquisa anterior, realizada com 12 pacientes internados em um Centro de Tratamento de Queimados em Fortaleza-CE, sobre os sentimentos e as dúvidas desses pacientes durante o período de internaçao, foram abordadas questoes buscando identificar lacunas e dúvidas dos pacientes acerca das rotinas e dos cuidados a eles prestados durante sua internaçaoe foi identificado um desconhecimento em relaçao às rotinas e os procedimentos realizados, atribuindo o tratamento e o cuidado apenas ao banho diário e a troca de curativos, como também um desconhecimento com relaçao ao papel dos profissionais atuantes na unidade, do qual eles relacionaram apenas como uma mao amiga. Cada um desses aspectos deu origem a um domínio abordado na cartilha educativa, no qual explicamos todos os procedimentos realizados, como também a funçao de cada profissional atuante no tratamento do paciente.

    Levantamento da literatura

    Foram realizados dois levantamentos na literatura: o primeiro voltado para produçao de material sobre pacientes queimados, que revelou em 25 artigos relacionados ao tema, sendo que, destes, 16 foram excluídos após leitura dos resumos, por nao se adequarem aos objetivos do estudo e os demais foram utilizados na construçao da cartilha educativa. O segundo levantamento foi sobre educaçao em saúde e construçao de materiais educativos, sendo encontrados nove artigos, dos quais cinco foram utilizados para embasar a elaboraçao da cartilha educativa.

    Montagem

    A montagem da cartilha foi dividida em três aspectos: linguagem, ilustraçao e layout.

    Linguagem

    Em cada seçao foram apresentadas de duas a quatro ideias, sendo incluídas apenas as informaçoes necessárias para o leitor compreender e seguir a mensagem.

    As informaçoes foram escritas em forma de conversa, pois este estilo é mais natural e mais fácil de ser lido e entendido, sendo utilizada voz ativa, palavras com definiçoes simples e familiares, além de analogias familiares ao público. Nao foram utilizados jargoes, termos técnicos e científicos, assim como abreviaturas, acrônimos e siglas.

    Em relaçao aos banhos e aos curativos, foram apresentadas a importância dos banhos e curativos diários. Explicamos que no início sao realizados com anestesia para evitar a dor, passamos a informaçao que esses procedimentos sao realizados em locais com segurança e conforto e que existe uma ordem de prioridades, ilustrando uma criança com queimadura, sendo banhada por um profissional.

    Em relaçao à alimentaçao, foi informado que a dieta é feita por um nutricionista e que eles nao podem trazer alimentos de casa; que alguns pacientes com queimaduras mais graves necessitarao de uma alimentaçao via sonda e que quando forem passar por procedimentos com anestesia, é necessário o jejum de oito horas. As ilustraçoes foram representadas pelas figuras de uma nutricionista entregando os alimentos ao paciente.

    Em relaçao à seçao limpezas cirúrgicas e enxertos de pele, foram informados que as queimaduras mais profundas necessitam de limpezas cirúrgicas para remover o tecido queimado e para as lesoes difíceis de cicatrizarem sao necessário os enxertos de pele. A ideia foi ilustrada por uma figura, mostrando uma limpeza da queimadura.

    Em relaçao à equipe de profissionais, mostramos que o CTQ conta com vários profissionais, prontos para ajudar no seu tratamento, e que muitos deles estao de plantao 24h. Ilustrou-se com a equipe multidisciplinar.

    Sobre a fisioterapia e a terapia ocupacional, foi evidenciada a importância de atividades fisioterápicas respiratórias e motoras, em vários ambientes da unidade, e que o CTQ também oferece a terapia ocupacional, acelerando a recuperaçao funcional e facilitando as tarefas do dia-a-dia. Foram representados pelas ilustraçoes de pacientes fazendo atividades.

    Quanto à psicologia e à psiquiatria, foi informado que os pacientes e acompanhantes irao contar com o apoio desses profissionais nesse momento tao difícil. Foi ilustrada por um profissional dialogando com o paciente queimado no leito.

    Em relaçao ao papel do acompanhante, informamos quem necessita de acompanhante e sua importância durante o tratamento do paciente. Que eles devem obedecer às normas do CTQ, contribuindo para a recuperaçao do paciente. Esse tema foi ilustrado com o acompanhante auxiliando o paciente.

    Quantos aos direitos sociais, informamos que no CTQ existe o serviço social, que irá mostrar os direitos, tanto dos pacientes como de seus acompanhantes, durante todo o período de internaçao. Foi ilustrado um atendimento com o assistente social.

    Foram informados todos os horários importantes relacionados à alimentaçao, às visitas, e às trocas de acompanhantes. Ilustraçoes de quadro de horários.

    Quanto à alta hospitalar, todas as recomendaçoes sao dadas, em relaçao aos cuidados após a alta e também sao informados a procurarem o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), para continuarem com seu tratamento gratuitamente. Foram ilustrados o paciente saindo de alta do CTQ e o endereço do IAQ.

    Cada tema foi desenvolvido completamente para, entao, passarse para o tema seguinte. Dentro de cada seçao, foram utilizadas ilustraçoes explicativas, que clarificam todos às normas e rotinas dentro da instituiçao, por exemplo, banhos e curativos, os exercícios de fisioterapia, os horários importantes de alimentaçao, visitas e trocas de acompanhantes, e um mapa mostrando o endereço do IAQ.

    Foi informado, com clareza, o que se espera do paciente, a fim de que este e o acompanhante colaborem com o tratamento e com as normas da instituiçao, além de exposto para os leitores os benefícios de seguir as orientaçoes propostas na cartilha educativa.

    As açoes foram apresentadas numa ordem lógica. Inicialmente, fazemos uma pequena introduçao e, a seguir, mostramos o objetivo que queremos alcançar com a cartilha.

    Em relaçao à construçao das frases, priorizou-se empregar sentenças curtas, seguindo abaixo as frases utilizadas em cada seçao:

    Ilustraçoes

    As ilustraçoes selecionadas ajudam a explicar ou enfatizam pontos e ideias importantes do texto. Como as representaçoes dos banhos, da alimentaçao, das limpezas cirúrgicas e dos enxertos de pele, as ilustraçoes do paciente saindo de alta, foram seguidas as orientaçoes de Moreira et al.6.

    Nas ilustraçoes apresentadas, características raciais e étnicas do público-alvo, vítimas de queimaduras, foram consideradas. Por se tratar de uma patologia que acomete principalmente crianças, adultos e idosos, foi retratada dessa forma11.

    Foram utilizadas ilustraçoes de linha simples, que funcionam melhor para representar as açoes desejadas. Tais ilustraçoes foram dispostas de modo fácil, para o leitor segui-las e entendê-las, próximas aos textos aos quais elas se referem. Foram empregados desenhos apropriados ao leitor, evitando-se ilustrar material dirigido ao público adulto/idoso, com motivos infanto-juvenis. Para tal, foram empregadas ilustraçoes de boa qualidade e alta definiçao, sendo estas realizadas por um profissional da área de design gráfico, além de terem sido evitadas ilustraçoes abstratas e que tenham apenas funçao decorativa no texto, como também desenhos e figuras estilizadas. Caricaturas nao foram utilizadas.

    Foram utilizados símbolos e imagens familiares ao público-alvo, que permitem as pessoas a se identificarem com a mensagem. Como na seçao "Banhos e curativos", na qual foram usadas ilustraçoes de uma criança, de um profissional e de um chuveiro com água corrente. Na seçao "Fisioterapia e Terapia Ocupacional" utilizaram-se ilustraçoes de atividades, como o paciente realizando trabalhos manuais.

    Layout e Design

    Em relaçao aos textos, a fonte utilizada foi de tamanho 14, pois se destina ao público adulto. Para os títulos das seçoes foram utilizadas fontes de tamanho 16. O uso de negrito foi empregado apenas para os títulos ou destaques. Priorizou-se as imagens aos textos, visto que nem todos os leitores terao capacidade de ler e interpretar apenas com palavras escritas. Estudos mostram que os portadores de queimaduras tendem a apresentar baixo nível socioeconômico12. Foram evitados textos com fontes estilizadas e maiúsculas, pois dificultam a leitura. As ideias foram organizadas no texto, na mesma sequência em que o público-alvo irá usá-las.

    Quanto às ilustraçoes, a cartilha teve como padrao de formataçao tamanho de 21 cm de altura por 15 cm de largura. Apresenta-se com 13 páginas, sem contar com a capa, contracapa e patrocinadores. Cada página teve uma ilustraçao, quatro contemplaram uma página inteira, duas preencheram meia página, sendo duas por página, somando um total de 17 ilustraçoes. As cores foram usadas com sensibilidade e cautela para nao causar poluiçao visual, pois impressao preta sobre fundo claro é mais fácil de ler. Sendo assim, a ilustraçao da capa e as que iniciavam uma nova seçao, além de contemplarem o espaço da página inteira, foram completamente coloridas. Foi utilizada impressao fosca (papel e tinta), pois reduz o brilho e melhora a legibilidade.

    Foi confeccionada uma capa com imagem, cores e texto atrativos. A mensagem principal e o público-alvo foram mostrados na capa, permitindo que o leitor capte a mensagem principal. Apresentou-se uma ideia completa numa página ou nos dois lados da folha, pois se o leitor tem que virar a página, no meio da mensagem, ele pode esquecer a primeira parte. As palavras ou ideias-chaves foram colocadas no início da frase ou da proposiçao e as informaçoes mais importantes foram colocadas no início e no fim do documento6.

    Na última página da cartilha, retratou-se o paciente saindo de alta hospitalar, destacando um membro livre, sem curativo, para evidenciar a possibilidade de cicatrizaçao, e outro membro com ataduras, para informar que essa área está quase cicatrizada, e ele irá continuar o tratamento no ambulatório. Segue abaixo a representaçao das figuras citadas anteriormente (Figura 1).


    Figura 1 - Ilustraçao da capa e páginas da cartilha. Fonte: elaboraçao própria



    A seguir, as ilustraçoes serao apresentadas por seçoes:

    Banhos e curativos

    Nesta seçao, foi utilizada uma ilustraçao contemplando uma página inteira e colorida por iniciar a seçao. A figura inicial exibe um paciente em uma sala de balneoterapia, com um profissional realizando a limpeza e o curativo da queimadura. A balneoterapia consiste no banho diário com duchas de água corrente e clorada, realizado em mesas apropriadas de aço inox ou fibra de vidro, com um amplo sistema de escoamento, podendo também ser realizado mantendose o paciente sentado em cadeiras ou em ortostase embaixo de chuveiros, dependendo do grau de cooperaçao13. Ela promove uma limpeza sistemática e diária da área queimada, acompanhada do desbridamento de tecidos desvitalizados e de curativos com antimicrobianos5. Ainda segundo o autor, como sistematizaçao, dividese a balneoterapia em duas modalidades: balneoterapia com analgesia e balneoterapia com anestesia. Este conjunto de procedimentos necessita de profissionais treinados, além de materiais, de aparelhagem e de instalaçoes adequadas, para obtençao de resultados eficazes, com custos otimizados e perdas reduzidas.

    Quantos aos curativos, eles podem ser oclusivos ou abertos. Os curativos abertos sao caracterizados pela colocaçao de uma cobertura primária ou apenas pela aplicaçao do agente tópico. As coberturas, os materiais ou os produtos utilizados para tratar ou ocluir a ferida, impregnados ou nao com agentes tópicos, podem ser primárias, quando colocadas diretamente sobre a lesao, ou secundárias, quando têm como funçao cobrir as coberturas primárias14. Já os oclusivos, a mesma autora acrescenta que se caracterizam pela aplicaçao de uma cobertura primária, seguida por outra secundária.

    Esse tipo de curativo tem como vantagens permitir a mobilizaçao do paciente, diminuir a perda de calor e de fluidos por evaporaçao pela superfície da ferida, além de auxiliar no desbridamento e na absorçao do exsudado presente, especialmente na fase inflamatória da cicatrizaçao. Entretanto, pode proporcionar reduçao da mobilidade de articulaçoes e limitar o acesso à ferida, somente durante o período de troca de curativos15 (Figura 2).


    Figura 2 - Ilustraçao sobre banhos. Fonte: elaboraçao própria



    Alimentaçao

    Para essa seçao, foi utilizada uma ilustraçao colorida, retratando a alimentaçao do paciente. A ilustraçao foi de um paciente queimado sentado, sendo alimentado por um nutricionista. Todos os pacientes internados no CTQ, após receberem liberaçao médica da dieta, sao incluídos nos padroes dietéticos oferecidos pelo hospital, com dieta compatível com sua aceitaçao, capacidade de mastigaçao e necessidades nutricionais5. Em algumas situaçoes, sao indicadas Terapia Nutricional Enteral (TNE), principalmente nas vítimas de trauma térmico, que apresentarem SCQ superior a 25% com predominância de 3º grau em adultos e de 20% em diante em idosos e crianças; idosos acima de 20% SCQ; existência de desnutriçao pré-trauma, perda superior a 10% do peso usual durante a internaçao e presença de patologias ou condiçoes clínicas que impossibilitem a ingestao de alimentos ou que esta ingestao nao seja compatível com 80% das necessidades nutricionais do paciente5 (Figura 3).


    Figura 3 - Ilustraçao sobre alimentaçao. Fonte: elaboraçao própria



    Limpezas cirúrgicas e enxerto de pele

    Para essa seçao foram utilizadas duas ilustraçoes. A figura inicial retrata uma limpeza na queimadura. Essas limpezas removem o tecido desvitalizado (escara) até um nível de tecido viável, para preparar o leito da ferida para a cobertura definitiva. A remoçao da escara ajuda a cicatrizaçao, prevenindo proliferaçao de bactérias. Os tipos de desbridamentos sao: mecânico com tesoura e fórceps e curativos molhados para seco; enzimático; e cirúrgico (excisao tangencial, fascial e de espessura completa)9.

    A segunda ilustraçao destaca uma queimadura limpa, pronta para ser enxertada. Lesoes extensas provocadas por queimaduras de terceiro grau eliminam a capacidade de regeneraçao da pele, sendo necessário um restabelecimento rápido das funçoes perdidas da pele, e a melhor forma é a realizaçao de enxertos autógenos (autoenxerto), que sao a retirada de uma área de pele nao queimada do próprio paciente, contendo epiderme e derme. O local de onde o tecido foi retirado é denominado "sitio doador". Este tipo de enxerto apresenta um índice de rejeiçao bastante baixo16, como é possível constatar nas ilustraçoes abaixo (Figura 4).


    Figura 4 - Ilustraçoes sobre limpezas cirúrgicas e enxerto de pele. Fonte: elaboraçao própria



    Equipe de profissionais

    Nesta seçao, foi utilizada uma ilustraçao retratando a equipe de profissionais atuantes no setor. No CTQ, a equipe multidisciplinar é formada por médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistente social, nutricionista, psicólogo e toda a equipe de enfermagem, que está em constante discussao e reflexao, em prol do melhor tratamento a ser oferecido, atendendo todas as necessidades do paciente queimado. O profissional de enfermagem tem um papel importante na reabilitaçao do paciente queimado, quando por meio das intervençoes de enfermagem procura reduzir a ansiedade, minimizar o sofrimento e distúrbios de padrao do sono, bem como administraçao de medicamentos e dor. Cabe também a este profissional ficar atento ao paciente, a fim de esclarecer dúvidas e também estimulá-lo a falar sobre o que está sentindo, mantendo uma comunicaçao efetiva tanto com o doente, como também com seus familiares17 (Figura 5).


    Figura 5 - Ilustraçao mostra a equipe de profissionais que cuida do paciente. Fonte: elaboraçao própria



    Fisioterapia e terapia ocupacional

    A seçao foi composta por duas ilustraçoes A primeira exibe um paciente fazendo fisioterapia. A intervençao fisioterapêutica neste tipo de lesao é de extrema importância no que se refere à diminuiçao das sequelas deixadas pela lesao, na melhoria da qualidade de vida e da integraçao, nao só física, mas também psicológica, do indivíduo na sociedade16.

    A segunda ilustraçao exibe o paciente fazendo artes com as maos, instruído por um terapeuta ocupacional, que atua na mediaçao de abordagens, atividades e orientaçoes, objetivando a reestruturaçao emocional, para, gradativamente, reabilitar física e funcionalmente o paciente queimado. O objetivo é torná-lo independente nas suas Atividades de Vida Diária (AVD), favorecendo assim a alta precoce13 (Figura 6).


    Figura 6 - Ilustraçoes mostram a importância da fisioterapia e terapia ocupacional. Fonte: Elaboraçao própria



    Psicologia e Psiquiatria

    A seçao foi composta por uma ilustraçao. Exibe um paciente no seu leito, em uma provável consulta com um psicólogo, prestando uma assistência ao paciente queimado e a sua família (acompanhantes) nas enfermarias do CTQ, para ajudá-los na diminuiçao do sofrimento psíquico provocado pelo trauma da queimadura e da hospitalizaçao9. Esses pacientes também contam com a intervençao médica psiquiátrica, durante todo o momento de sua internaçao, avaliando sua saúde mental, e, caso seja diagnosticado, esses pacientes serao tratados e acompanhados até o momento de sua alta9 (Figura 7).


    Figura 7 - Ilustraçao mostra a equipe de profissionais que cuida do paciente. Fonte: elaboraçao própria



    Serviço social

    A seçao foi composta por uma ilustraçao do qual exibe um paciente e seu acompanhante na sala do serviço social recebendo explicaçoes sobre as normas da instituiçao e seus direitos. Esse serviço integra a equipe interdisciplinar que atua no CTQ, mediante as relaçoes sociais entre o usuário, a família e a equipe de saúde, intervindo nas múltiplas expressoes da questao social, que se manifestam durante o internamento9 (Figura 8).


    Figura 8 - Ilustraçao mostra a atuaçao do Serviço Social. Fonte: Elaboraçao própria



    Acompanhante

    A seçao foi composta por uma ilustraçao. A figura contempla um paciente acompanhado por seu familiar. O acompanhante é todo e qualquer indivíduo que de forma voluntária ou remunerada permanece junto do paciente por um período de tempo consecutivo e sistemático, proporcionando companhia, suporte emocional e que, eventualmente, realiza cuidados em prol do paciente mediante orientaçao ou supervisao da equipe de saúde18 (Figura 9).


    Figura 9 - Ilustraçao mostra direitos e deveres do acompanhante. Fonte: Elaboraçao própria



    Horários importantes

    A seçao foi composta por quatro ilustraçoes exibindo os horários importantes de interesse dos pacientes e de seus acompanhantes (Figura 10).


    Figura 10 - Ilustraçao com os horários mais importantes. Fonte: Elaboraçao própria



    Alta hospitalar

    A seçao foi composta por duas ilustraçoes e encerra a Cartilha para Pacientes Vítimas de Queimaduras. A primeira exibe um personagem saindo de alta hospitalar após uma consulta médica recebendo as recomendaçoes. A segunda dá informaçoes sobre o Instituto de Apoio ao Queimado (Figuras 11 e 12).


    Figura 11 - Ilustraçao mostra o momento da alta hospitalar. Fonte: Elaboraçao própria


    Figura 12 - Ilustraçao com informaçoes sobre o Instituto de Apoio ao Queimado. Fonte: Elaboraçao própria



    Validaçao da Cartilha

    Este estudo foi composto por 27 colaboradores, sendo 15 profissionais, nove pacientes e três acompanhantes. A equipe de profissionais foi composta por três enfermeiras, dois médicos plantonistas, um cirurgiao plástico, um anestesiologista, um nutricionista, dois terapeutas ocupacionais, um fisioterapeuta, um assistente social, dois auxiliares de enfermagem, uma técnica de enfermagem. Seis deles tinham o título de especialista, dois tinham mestrado. Todos estavam trabalhando em um centro de tratamento de queimados. Dois eram professores e quatro, pesquisadores.

    Os pacientes e seus acompanhantes tinham entre 18 e 37 anos de idade. A escolaridade variou entre o nível fundamental até o superior. Todos estavam internados ou acompanhando seus familiares no CTQ.

    A primeira versao da cartilha tinha 11 páginas. Elas estavam impressas em preto e o título era "Cartilha para pacientes vítimas de queimaduras". Esse título foi mantido até a versao final da cartilha.

    No processo de validaçao por peritos, todos fizeram avaliaçao positiva da cartilha. A linguagem foi considerada fácil para o entendimento e esse aspecto foi destacado como vital para promover os interesses dos pacientes. As ilustraçoes eram coloridas, dando destaque às orientaçoes. Foi obedecida uma sequência lógica, na qual foram identificadas as etapas do tratamento, desde a admissao até uma eventual alta.

    Todos os pacientes e acompanhantes também fizeram avaliaçao positiva da cartilha. Eles consideraram que esse tipo de recurso é importante para informarem sobre tudo que possivelmente irao passar. Todas as dúvidas e orientaçoes estavam contidas na cartilha de forma bem simples, para que pudessem entender.

    Após a finalizaçao do material, contemplando as sugestoes propostas, foram impressos inicialmente 5000 exemplares da cartilha pelo Instituto de Apoio ao Queimado. Estes estao sendo distribuídos no Centro de Tratamento de Queimados, aos pacientes e acompanhantes que sao admitidos.


    CONSIDERAÇOES FINAIS

    A experiência demonstrou que a educaçao em saúde na prática de enfermagem nao se limita somente à comunicaçao de conteúdos e realizaçoes de intervençoes, mas também no desenvolvimento e avaliaçao de recursos educativos produzidos para consumo de seus clientes, o que reafirma a Enfermagem como ciência.

    A qualidade de vida dos portadores de queimaduras é afetada de forma expressiva, sendo a educaçao em saúde uma alternativa primordial para amenizar o impacto dos prejuízos que a lesao acarreta. Neste sentido, a cartilha educativa tem uma contribuiçao valiosa para se desenvolver habilidades e favorecer a autonomia do indivíduo.

    Acredita-se que esse estudo contribuiu para fortalecer a prática educativa da enfermagem e, assim, melhorar a qualidade de vida desses pacientes, além mostrar outras questoes de pesquisa, que possibilitem o aperfeiçoamento do material educativo. Por fim, acredita-se que nenhum conhecimento é estático, logo este instrumento deverá passar periodicamente por revisoes apuradas, para torná-lo sempre atualizado e útil na prática.


    REFERENCIAS

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    1. Enfermeira, graduada pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF), Fortaleza, CE, Brasil
    2. Médico do Centro de Queimados do Instituto Dr. José Frota e Presidente do Instituto de Apoio ao Queimado, Fortaleza, CE, Brasil

    Correspondência:
    Ana Neile Pereira de Castro
    Rua 2, nº 150 - Apto. 204, Presidente Kennedy
    Fortaleza,CE, Brasil - CEP: 60355-634
    E-mail: neilecastro@gmail.com

    Artigo recebido: 8/8/2014
    Artigo aceito: 18/9/2014

    Trabalho realizado no Instituto Dr. José Frota, Fortaleza, CE, Brasil.

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